Surto de doenças na suinocultura: O que deu errado?
Introdução
Na produção animal, é papel do médico-veterinário auxiliar e orientar os produtores sobre a melhor forma de manter a saúde dos animais ao longo de todo o ciclo produtivo. Em especial, na suinocultura, vemos um grande foco em manter as doenças fora das unidades de produção, principalmente nas granjas de matrizes comerciais. No entanto, mesmo com nossos melhores esforços, às vezes falhamos. Por isso, para evoluirmos como veterinários e produtores, devemos nos perguntar: o que deu errado? E como podemos evitar que isso aconteça novamente no futuro?
Eventos de Risco
Ao analisarmos a rotina diária na suinocultura, podemos identificar diversas oportunidades para a ocorrência de eventos que aumentam o risco de introdução de patógenos nos plantéis. Isso inclui a entrada de funcionários e visitantes, insumos, veículos, sêmen, marrãs etc., ou ainda a saída de animais, como matrizes descartadas ou leitões desmamados. Sendo assim, para lidar com cada um desses possíveis eventos de risco, desenvolvemos e implementamos um conjunto integrado de protocolos de biosseguridade. Mas, se estamos implementando um conjunto robusto de protocolos, por que ainda enfrentamos surtos de doenças?
Primeiramente, devemos compreender, como descrito pelo Dr. Derald Holtkamp em sua apresentação na conferência Leman de 2020, que um surto de doença é resultado de uma série de falhas que ocorrem em torno de um evento de risco específico (Figura 1). Em primeiro lugar, o agente transportador (fômite ou vetor) é contaminado ou infectado com o patógeno. Em segundo lugar, há uma falha na mitigação da contaminação ou infecção desse agente transportador. Por fim, uma vez dentro da granja, esse agente entra em contato com os suínos do plantel.

Frequentemente, após avaliarmos e determinarmos onde ocorreram essas falhas na prevenção da entrada da doença na unidade de produção, corremos para implementar novos protocolos ou retomamos protocolos que estavam sendo executados com menos rigor, passando a aplicá-los corretamente. No entanto, com o passar do tempo e a resolução do surto, tendemos a nos acomodar e começamos a retirar essas medidas extras de biosseguridade que havíamos implementado, geralmente começando pelas mais caras ou que demandam mais tempo.
Às vezes, somos muito reativos diante das ameaças sanitárias, mas ser reativo nem sempre funciona. Quanto mais diligentes conseguirmos ser, mesmo quando a ameaça de doença parece estar baixa, maiores serão as chances de evitarmos surtos de doenças.
Prevenção de surtos
No caso de um surto de doença, frequentemente a prioridade máxima torna-se evitar que novos surtos ocorram em outras áreas do sistema, fazendo uso de protocolos de biocontenção. Podemos fazer isso por meio de diversas ações, sendo as seguintes consideradas as mais importantes: isolamento ou eliminação de animais doentes, limpeza e desinfecção, protocolos de testagem e gerenciamento de pessoas.
Estamos constatando cada vez mais que a falha na implementação de protocolos eficazes de biosseguridade para limpeza e desinfecção de galpões, equipamentos e caminhões de transporte de suínos está levando a um aumento na incidência de doenças. A lavagem de caminhões de transporte de animais vivos é um tema pouco debatido no setor, pois muitas empresas e produtores possuem procedimentos diferentes para esse processo. Há casos em que caminhões de transporte de suínos são lavados apenas a cada 4 ou 5 cargas! Imagine: depois de 5 cargas de suínos, esse caminhão pode se tornar uma fonte altamente contaminada de doenças como (PSC, Influenza, Rotavírus e Clostridioses).
Depois, o caminhão passa por uma unidade de lavagem comercial, onde a água pressurizada remove matéria orgânica das superfícies do veículo e a lança no chão, e o próximo caminhão a passar pela lavagem poderá sofrer contaminação cruzada. Mesmo em unidades de lavagem internas das próprias granjas ou integradoras, a possibilidade de contaminação dos veículos é inevitável, e o risco de levar essas doenças de volta para as granjas aumenta significativamente.
No entanto, há um passo adicional que podemos adotar para mitigar esse risco: levar os caminhões a um local separado e realizar uma segunda desinfecção com um desinfetante de qualidade, como o Virkon® S e o (Virkon® LSP). Isso pode ajudar a reduzir significativamente a probabilidade de transferência de doenças e surtos nas granjas.
As pessoas, colaboradores e equipes são uma das partes mais difíceis de gerenciar. “Todos tomam banho de entrada e saída e seguem todos os nossos protocolos de biosseguridade”, mas, naturalmente, como seres humanos, sempre procuramos a forma mais fácil de fazer as coisas. Por exemplo: o funcionário João, estava atrasado hoje. Ele já havia tomado banho em casa pela manhã, então, ao chegar na granja, pulou o banho de entrada. O que ele não sabia é que, ao parar no posto de gasolina a caminho do trabalho, teve contato com o caminhoneiro José, que estava transportando uma carga de suínos positivos para determinada doença. Agora, João pode ter carreado o patógeno para dentro da sua granja.
É fundamental que criemos entre os funcionários a consciência de que esses protocolos são de extrema importância e que eles devem sempre seguir os procedimentos corretamente, sem exceções.
Conclusão
O setor possui capacidade para concentrar esforços na prevenção dessas doenças de alto impacto, que continuam nos assolando com surtos ano após ano, e potencialmente evitar que muitos deles ocorram.
É preciso um esforço colaborativo, com foco em protocolos mais rigorosos de biosseguridade, principalmente relacionados à limpeza e desinfecção no transporte de suínos e suas instalações. A resistência mais comum é: “mas quanto isso vai me custar?”. A pergunta correta deveria ser: “quanto me custaria um surto de determinada doença?”
Sabe-se, por exemplo, que os custos de quadros de diarreia neonatal foram recentemente estimados em 134 euros por matriz por ano em lotes afetados (Mesonero-Escuredo et al., 2018). Sem considerar doenças exóticas ao Brasil, como PRRS e PSA, cujo impacto econômico chega à ordem de milhões de dólares.
Existe um mundo de oportunidades, e tudo começa com dedicação de mais tempo à prevenção de surtos de doenças, especialmente as de alto impacto.
Use biocidas com segurança. Sempre leia o rótulo e as informações do produto antes de utilizar.
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